Celene Santana Oliveira

Olá Pessoas Incrivelmente Incríveis...

7 de outubro de 2009

Caps III: preconceito ainda é barreira

Em Cascavel, os casos de adultos com transtorno mental severo são tratados no Caps III

Publicado em 1 de Outubro de 2009, às 8h23min Jeferson Popiu Fonte: Mariana Lioto / Gazeta do Paraná

Loucos. É esse o rótulo que muitos impõem às pessoas que possuem alguma deficiência ou passam por algum transtorno mental. Em Cascavel, os casos de adultos com transtorno mental severo ou ainda com problemas decorrentes do uso de álcool ou outras drogas são tratados no Caps III (Centro de Atenção Psicossocial).
De acordo com a intensidade de cada caso, o paciente vai ao centro uma vez por semana ou até todos os dias. Lá o atendimento é multidisciplinar, e o trabalho é feito tanto individualmente quanto com terapias em grupo. Atualmente são 137 pessoas em atendimento, a fila de espera para o serviço não é grande, segundo Janete da Silva, atualmente seis pessoas esperam por uma vaga para receber atendimento. Os pacientes são enviados pelas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e também pelo CASM (Centro de Atendimento em Saúde Mental), o tratamento normalmente dura vários anos. “Nós contamos com profissionais do serviço social, enfermagem, psicologia e psiquiatria. Além disso, eles participam de oficinas em grupo que envolve marcenaria, artesanato, artes, teatro, educação física e também alfabetização”, contou Janete. No total, 35 pessoas trabalham no centro, alguns profissionais dividem carga horária com outras unidades, como é o caso do psiquiatra que atende no Caps III apenas três vezes por semana.
O local onde o Caps III funciona é alugado, apesar de as salas existentes serem amplas e ao fundo da unidade haver até um bosque, não há espaço para expandir o atendimento, o centro trabalha com o limite de pacientes e não há como, por exemplo, implantar uma nova oficina com outra atividade para os pacientes, pois não há espaço. Miriam Cozer, a nutricionista da unidade, comenta que em alguns momentos a falta de pessoas prejudica o atendimento, “muitos pacientes ficam o dia todo aqui e fazem três refeições, mesmo assim não temos cozinheira e este trabalho é feito pelas três zeladoras, que somam esta função sem ganhar por isso. É bastante trabalho, hoje, por exemplo, uma delas está de atestado e outra com carga horária reduzida, então fica bem puxado”. Miriam atende também as outras unidades de saúde mental do município e percebe que faltam atividades para os pacientes, “o que nos falta são parcerias, a Secretaria de Saúde poderia dialogar com outras secretarias e até mesmo com instituições privadas para ter mais atividades para os pacientes, até fora daqui, por enquanto é pouco”, uma parceria com a secretaria de esportes, por exemplo, poderia levar os pacientes para diversas atividades sem grandes custos para o município, “mas o que a gente percebe é que falta informação, ainda existe muito preconceito, a grande maioria das pessoas não sabe como lidar com eles e acredita que são agressivos, tem medo. Uma possibilidade seria levar os pacientes para ter aulas de informática em alguma faculdade, já que aqui não tem sala de informática, mas seria preciso mediar toda a situação”, comentou Miriam.
A profissional de serviço social do centro, Cristiane de Godoy Sartori Zimmer comenta que um dos transtornos mais comuns entre os pacientes é a esquizofrenia, “nós temos pacientes com diversos transtornos, mas o mais recorrente é a esquizofrenia, que exige acompanhamento de perto para estabilizar a doença. O fato de o trabalho ser multidisciplinar é importante, porque não é só o remédio que vai resolver o problema do paciente, ele precisa de atividades que o estimulem e o insiram no contexto social”, destacou. Segundo ela, apesar de raros, existem casos onde o transtorno consegue ser controlado a tal ponto que o paciente consegue se inserir em diversas atividades, inclusive no mercado de trabalho, “nós temos pacientes que estão trabalhando, é mais fácil quando eles conseguem ser inseridos nas cotas de deficientes que a empresa precisa contratar, mas não são todos os casos que se enquadram. No geral, tentamos proporcionar que o paciente volte a participar, o máximo possível, das atividades do cotidiano, tenha qualidade de vida e tenha um nível de independência”, explicou Cristiane.
Alguns materiais produzidos pelos pacientes nas aulas de artesanato e marcenaria estão expostos na unidade e também são vendidos, um terço do valor arrecadado vai para o paciente que fez a peça, o restante vai para a compra dos materiais utilizados. Grande parte dos pacientes é carente e não tem acesso a planos de saúde, o tratamento do CAPS normalmente é o único ao qual eles têm acesso.
Mudanças
Os problemas verificados no Caps III foram repassados ao secretário de Saúde, Ildemar Canto. Segundo ele, não existe previsão de construção de uma sede própria para o centro, “nós temos a intenção, mas não há previsão de quando isso vai acontecer. O espaço é alugado e existem outras unidades com mais prioridade que esta”. Quanto à necessidade de parceria entre o Caps III e outras secretarias ou ainda instituições particulares, Ildemar afirmou que é objetivo firmar tais parcerias, “esta é uma de nossas propostas, fazer com que as secretarias trabalhem com mais interação e não isoladamente, isso está sendo posto em avaliação e deve ser executado em breve”, garantiu.
Quanto à falta de psiquiatras, Ildemar comentou que não existe na legislação do município um plano de cargos e salários, “os dois psiquiatras que o município tem são contratados como médicos clínicos, nós pretendemos criar o cargo de médico psiquiatra e até o fim do ano, abrir concurso para trazer estes profissionais, precisamos de, no mínimo, quatro médicos”.
Outra proposta é a criação de equipes matriciais, para trabalhar a saúde mental diretamente nas UBSs, mas para isso será preciso um concurso público para a contratação dos profissionais para compor esta equipe, “isso demonstra uma preocupação, consideramos a saúde mental um elemento extremamente importante, podemos observar uma melhora muito grande destes pacientes, eles precisam ter um espaço adequado dentro do serviço público de saúde”.
Foto: João Guilherme

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